domingo, 12 de setembro de 2010

Depressão dominical


A agulha arranhando, bem leve, no disco já bastante antigo. O som do piano começa, calmo e relutante. São cinco ou seis cigarros em um cinzeiro velho, semi-improvisado. Meia luz na sala vazia , a exceção de um sofá empoeirado, uma garrafa de qualquer destilado vagabundo, algumas lembr anças, várias dores e muitas lágrimas – secas.
Decepção já era companheira de longa data, mas é incrível como ela sempre consegue ser surpreendente quando aparece – nem sempre pontual, mas o que vale é a presença, né?!
Uma buzina longa ao fundo. Pneus cantando. Um xingamento. Barulhos da rua e cheiro de monóxido de carbono por toda a parte. Da janela se vê um mendigo caído no chão, carros em intervalos constantes, prédios com algumas luzes acesas e a meia-lua no céu – um sorriso de gato, à lá Alice no País das Maravilhas.
A brisa fria cortante. As luzes ligeiramente amareladas. A noite escura lá fora – e aqui dentro. Companhias perfeitas. Chamadas no celular. Eram aqueles camaradas, convidando pra sair... deixa tocar. Hoje a melhor companhia é aquele copo em cima da mesa da cozinha.
E relembrar tudo o que já foi – e não voltou. Ressentir tudo aquilo que ainda dói – e não vai parar de doer. E imaginar tudo aqui que nunca se vai ter... E viver, do jeito que dá. Sem muita empolgação. Mas viver – sobreviver.
Aos poucos. Devagar. Sem pressa. Sem medo. Mas sem esperanças.
Respirar.
Um solo de guitarra depressivo. Agudos tintilantes. A música acaba. Silêncio.
Dormir.