sexta-feira, 6 de março de 2009

Descoberta

Hoje acordei com a impressão de que não era um dia comum aquele que estava por vir, e são nessas horas que eu gostaria de estar errado – como quase sempre estou. Olhei para o espelho, mas meu rosto parecia diferente. Algo duro naqueles traços de barba mal feita me pareceu estranho, e aqueles meus olhos, que antes tão castanhos e felizes foram, pareciam frios. Congelados. Duma palidez quase cinza.

Então foi que percebi. Havia mudado alguma coisa, sim. Mas não só no rosto. Aquele frio era o meu gelo. Aquele das paredes que me guardavam da vida. E confesso já não querer mais viver sem elas. Não por falta de coragem, esta eu já tive muita, mas por falta de esperança – a qual também já me acompanhou por muito tempo, mas a deixei de lado. Sim, abandonei-a. A caminhada do lado da esperança é mais dura, ela te faz acreditar que a vida pode ser mais doce, quando o que te toca a língua e o gosto podre da realidade.

Acho até mesmo que essas duas andam mancomunadas, a vida e a esperança. Sim. Pensem bem como os caminhos que a vida te força a seguir te fazem dar a luz às esperanças mais absurdas possíveis. Como por exemplo, quando te coloca no caminho de um alguém especial. Alguém que te completa. Alguém que te gosta. Alguém que o mundo – e a própria bandida da vida – sabe que é teu por direito, mas te priva do poder de tê-la junto a ti. O motivo nem importa, ele pode vir manifesto das mais diversas formas. O que faz a diferença é quando a esperança aparece e te faz pensar que aquela pessoa pode ainda ser tua. Mesmo sendo irracional o fundamento pra isso. Mesmo que este nem exista. A esperança te faz vê-lo. É como se ela te fizesse ficar cego, mas ao contrário.

É. É isso, mesmo. Minhas paredes formaram um castelo inteiro. Fiz a minha descoberta: meu castelo de gelo foi a vida quem construiu, com tijolos de esperança e cimento de decepção.

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