quinta-feira, 23 de abril de 2009

Apocalipse

Foi então que, mesmo que em parte esperado, aconteceu! O meu mar incendiou-se, entrou em chamas negras e e gélidas. E todo aquele resplendor que um dia se viu naquele infinito espelho d'água, cintilava em trevas.
O meu anjo tocou a trombeta, fazendo com que aquela grande bola de fogo negro explodisse dentro do meu mar - onde eu nunca pude me afogar. Chegaram os lobos, voando sobre as chamas, depois de dilacerar os leões que me guardavam, e guardavam o meu oceâno. Me olharam na alma, que exalava esperança há tanto tempo que já nem lembrava mais o gosto de outro sentimento qualquer, senão aquele. E o meu único sentido levaram dentro dos olhos, sem qualquer piedade. Foi-se embora com eles a esperança, a alegria, a alma e o amor, restando em mim somente a concha vazia que se tornou o meu corpo, talhada em azeviche.
O Apocalipse chegou, e aquele que outrora fora meu maior deleite - o meu mar transparente, o meu amor, a minha alma - me foi roubado. E nas mãos não tenho mais armas pra lutar contra os lobos e seus meteoros de fogo e trevas. Sobraram-me alguns cigarros e uma garrafa de conhaque, pseudo-analgésicos pra quem adquire câncer na alma.
Da praia de onde eu admirava meu mar diariamente, agora sentamos eu, um conhaque e um cigarro, olhando sem ver o oceano de fogo preto que hoje restou. E Esperando o dia em que os lobos voltem pra levar a concha vazia que esqueceram na beira da água.
E o mundo acabou.

Apocalipse 8:8-9 "O segundo anjo tocou a trombeta, e uma como que grande montanha ardendo em chamas foi atirada ao mar, cuja terça parte se tornou em sangue, e morreu a terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a terça parte das embarcações."

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