Acordei. O frio e a umidade do ar me abraçavam o peito, mas eu acordei. Cedo demais, pro que considero usual. Nem o sol ainda se havia acordado, mas eu já me fazia de pé. E aquela certa agonia sem nome me fez inquieto. Então andei...
As ruas pelas quais passei – todas absurda e inacreditavelmente vazias – eram quase rios negros reluzentes. Chegava a ver no asfalto o reflexo das poucas estrelas que pintavam o céu, igualmente escuro. Algumas das casas que beiravam as ruas me soavam bem agradáveis, com jardins convidativos e aconchegantes. E ia andando e reparando as casinhas, uma após a outra...
Parei.
Era uma casa que já conhecia, sem saber exatamente como. Mas já conhecia. Janelas verdes, bem encaixadas em paredes de um cinza bem claro... quase como o das nuvens leves de chuva. Chuviscos. Um pequeno algodoal guardado e bem cuidado no jardim, cercado por lírios bem novos. E cortinas lisas, parecendo duas flanelas. Flanelinhas cor-de-laranja. Era tudo similar demais, conhecido demais. Era particularmente habitual pra mim.
Entrei.
Encontrei ali tudo aquilo que nunca havia conhecido, mas desde sempre lembrava. Memórias de vidas que sequer vivi, bem ali, naquela casa. Das conversas no sofá de couro marrom escuro, já meio gasto. E do cheiro de algodão, tão bom, que vinha das cortinas.
Vi meu passado que não existiu, senti meu presente, que era incolor, mas sensível. E vi meu futuro, embaçado e escuro. Mas juro, juro que enxerguei um pingo de felicidade. Vi olhos claros, uma boca farta. Vi coragem e virtude.
Três batidas.
Acordei – dessa vez, de verdade – com o vigia da noite, batendo no banco em que eu estava dormindo. E mais uma crise de sonambulismo havia-me acometido – mas será?
E ao voltar pra minha cama, já me aconchegando nos lençóis, tentei guardar na memória todos os detalhes daquele sonho torpe. Especificamente daquela casa.
E depois, pensando bem mesmo, tive a impressão de que aquela casa tinha um rosto, um corpo e um nome. O nome que a minha alma grita há tempos. E por fim, me sobreveio a maior dúvida, será que foi mesmo um sonho ou estaria eu sonhando agora?
A realidade, pra mim, já não é mais tão detectável a olho nu. Prefiro o toque!
Você está acordado?
Abra os olhos!
(Uma batida!)
Viagei na imaginação aqui.. Eu juro que vi a casa! Sentei no sofá marrom.. E acordei na praça! rsrs..
ResponderExcluirSenti seu texto.. E ainda não sei se foi um sonho, dois, ou a pura realidade.. Adorei isso!
Ei psiiuu! Cacaueto! Acordaa! ;)
Beijo!
Preciso esclarecer que li pelo menos quatro vezes esse texto antes de criar um conceito particular sobre ele. Até porque, cada vez que leio imagino coisas diferentes, como se a cada leitura fosse um novo sonho ou um novo texto. Enfim... fantástico!!
ResponderExcluirJá pode acordar?
Beijos.