Soraya foi sempre uma mulher e tanto. Daquele tipo exótico, que de primeira, a gente nem repara, mas depois, nem se compara. Lembro daquele primeiro dia de aula – quente como sempre o é – depois de dormir a primeira aula toda, reparei aquela presença nova por entre os meus colegas de turma. Era uma menina bonita, mas com uma beleza comum. Nem reparei que ela estava sentada à terceira cadeira, com certeza era uma "delas".
O problema é que a gente sempre erra, um dia ou outro. Aquele era o meu. Descobri isso quando resolvi – sabe-se lá o porquê – sentar atrás dela. E me veio o sorriso. O sorriso mais lindo de todos, com os incisivos inferiores milimetricamente encurvados, os superiores muito bem alinhados, envoltos por lábios pequenos e rosados. Um sorriso sincero, simples. Irresistível. E conversamos, conversamos, conversamos. Ela permaneceu pouquíssimos dias em minha sala, para o meu desgosto.
Nos vimos pouco, conversamos muito. O tempo passou, e com ele me veio a percepção da beleza que tinha aquela mulher, não pelo que os outros viam nela, mas pelo que ela se permitia mostrar aos outros. E mostrou-me sua beleza mais profunda, que ia além daqueles cabelos castanhos, lisamente ondulados, que encobriam a boca pequena, um nariz que – até então – guardava um ossinho desviado (o que dava um charme e tanto) e os olhos castanhos, profundos, sinceros e sedutores demais para mim.
Soraya mostrou-me a beleza da alma que tinha, com palavras doces, conversas confortáveis, mensagens à noite, saudades constantes e a amizade – que eu nunca quis que existisse por si só.
Tenho a certeza de já ter conhecido mulheres e tanto antes, mas depois de Soraya, todas me pareceram sem-graça, sem sal ou açúcar, sem chilli. É o tipo de mulher que marca, deixa tatuado na alma o seu nome.
Inteligência. Carinho. Beleza. Sabedoria. Amizade.
É, Soraya sempre foi a combinação ideal. E acreditem, ela existe!